quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Campos Sulinos

A flora dos Campos do Rio Grande do Sul


                        A riqueza da biodiversidade de uma região é importantíssima para a conservação dos ecossistemas, tanto de um determinado ecossistema como no todo em que este ecossistema está inserido, tanto no sentido biológico quanto na sua relação com o homem.
Biomas do RS – verde mais escuro Mata Atlântica, verde mais claro Pampa
       Os campos, dentre os ecossistemas do globo terrestre, envolvem campos, savanas, vegetação arbustiva e tundra, correspondendo a 40,5% da área do globo terrestre, exceto Groenlândia e Antártida. O Brasil possui uma das floras mais ricas do mundo, com uma quantidade entre 55.000 e 60.000 espécies de angiospermas, correspondente a cerca de 19% da flora mundial. O Estado do Rio Grande do Sul, no Sul do Brasil, tem uma superfície de aproximadamente 280.000 km2, faz fronteira com o Uruguai e Argentina, apresentando grande extensão de campos, sendo que parte do Estado está incluída no bioma Mata Atlântica e parte no bioma Pampa.

                        A grande diversidade biológica ocorrente no Rio Grande do Sul se deve, em especial, a diversidade de solos procedentes da grande variabilidade geológica, da topografia, da distribuição da pluviosidade, da temperatura e da disponibilidade de água. A topografia associada à hidrografia, formada por rios e lagos, constitui uma grande variedade de ambientes que sustentam uma grande diversidade biológica.
                        A vegetação do Rio Grande do Sul é constituída por formações florestais, formações campestres, além de áreas de tensão ecológica e das formações pioneiras. Ocorreram alterações devido a interferência humana, através da criação de gado, atividade de agricultura como arroz e soja, silvicultura e a expansão humana, resultando em diminuição da vegetação campestre em torno de 51%.
                        A vegetação campestre é basicamente formada por gramíneas, mas em locais com intensa movimentação de animais ocorre a invasão das rosetas, buvas, quitoco e maria-mole, entre outros, que são plantas que se multiplicam rapidamente. Em áreas mais úmidas como os banhados habitam as ciperáceas, formando densas populações. Encontram-se ainda famílias de rubiáceas, euforbiáceas, umbelíferas, solanáceas, malváceas, amarantáceas, verbenáceas, plantagináceas, orquidáceas e as lamiáceas. A grande maioria das espécies da vegetação campestre é de possível identificação. A diversidade campestre do Rio Grande do Sul é da ordem de 2.200 espécies.
                        A vegetação campestre do sul do Brasil, de acordo com Burkart(1975), é classificada em dois tipos: “campos do Brasil Central” para aqueles situados no norte do Estado e que tem continuidade em Santa Catarina e Paraná e fazem parte do bioma Mata Atlântica (IBGE 2004) e “campos do Uruguai e sul do Brasil” para aqueles do sul do RS e que correspondem ao bioma Pampa (IBGE 2004).
                        Os campos do Bioma Mata atlântica caracterizam-se por florestas com araucárias, pinheiro-bravo e bracatinga cobertas com barba-de-pau, mas também encontram-se grandes extensões de campo com diversas famílias de compostas, leguminosas, verbenáceas e solanáceas.
                       
http://zoobotanica.blogspot.com.br/2012/03/exposicao-fotografica-nosso-pampa.html
A pecuária é muito intensa neste bioma, mas prática das queimadas no final de cada inverno ou a cada dois anos, para propiciar o rebrote da vegetação que será usada na alimentação do gado na primavera e verão tem restringido a vegetação nesta região, ficando o solo a descoberto, pois apenas algumas espécies conseguem se manter após as queimadas. Em outras regiões os campos apresentam diversidade de espécies sendo a mais representativa a família Asteraceae, colorindo os campos durante o seu florescimento. Destaca-se uma leguminosa de flor amarela da família Fabaceae, resistente ao fogo, possivelmente por sua estrutura subterrânea, nos campos de altitude. Variadas espécies de plantas com flores vermelhas, rosadas, amarelas, liláses e azuis, além de algumas serem ornamentais, também se destaca em variadas regiões como banhados, locais protegidos de beira de estrada e solos mais secos.
                        O clima frio da região aliado à alta precipitação pluviométrica e altitude elevada desenvolveu muitos endemismos, ou seja, as plantas evoluíram e se adaptaram a este ambiente e se tornaram exclusivas desta região.
               
         Os campos do Bioma Pampa são ricos em gramíneas, apresentam florestas nas margens dos rios, além de campos de barba-de-bode, campos sobre solos rasos e solos profundos, campos de areia, campos da Depressão Central e campos litorâneos, com grande diversidade da estrutura vegetacional em todas as regiões. Entre as gramníneas encontram-se o capim-forquilha, capim-caninha, cola-de-lagarto, capim-melador, flechilhas e cabelos-de-porco. A vegetação dos campos areias apresenta a estrutura subterrânea desenvolvida. Foram identificadas 301 espécies de compostas, entre elas, as espécies Paspalum nicorae, P. stellatum e Pappophorum macrospermum, de coloração acinzentada auxiliam na fixação do substrato arenoso, junto com Paspalum notatum e Acanthospermum australe, o carrapicho-do-campo (Freitas 2006). No meio da areia, Lupinus albescens germina e floresce, sendo uma importante indicadora para recuperação da fertilidade do solo. As plantas mais altas apresentam características que reduzem e prejudicam a evapotranspiração. Habitam este ambiente várias espécies latescentes, como as euforbiáceas e as apocináceas, e com óleo como o capim-limão, substâncias que servem possivelmente para evitar a predação por animais.
            A região savanóide também apresenta grande quantidade de gramíneas e compostas. Nesta região as leguminosas estão mais bem representadas tanto no campo, quanto em beiras de estradas e junto da vegetação arbustiva. A vegetação rupestre associada a estes campos apresenta muitas cactáceas endêmicas, além dos campos serem também ricos em endemismos.
                        Nos campos do centro do Estado predominam as compostas entremeadas às gramíneas, sendo as rizomatosas as espécies dominantes no estrato inferior, representadas pelo capim-forquilha nos topos e encostas das coxilhas e estoloníferas como a grama-tapete nas baixadas úmidas, e no estrato superior destaca-se o capim-caninha pela sua presença constante. Devido ao sobrepastoreio instalam-se nestes espaços as sementes de compostas, que são numerosas, destacando-se a roseta, o alecrim-do-campo, a maria-mole, além de S. selloi e S. heterotrichius. Nas áreas bem drenadas as barbas-de-bode formam touceiras e compõem o estrato superior da comunidade vegetal.
                        Os campos litorâneos caracterizam-se pela presença das gramíneas que habitam solos medianamente drenados e as ciperáceas que habitam solos mal drenados, sendo, porém, esta região bem representada pelas leguminosas e solanáceas.

Impactos sobre a diversidade nos Campos


                        A vegetação campestre tem uma grande diversidade de espécies e ecossistemas, que estão adaptados ao estresse de cada região, convivendo e mantendo a paisagem característica do local, vivendo em harmonia umas com as outras. A interferência humana, como queimadas, utilização das áreas para plantação de grãos ou silvicultura, criação de animais de forma excessiva, utilização de agrotóxicos, entre outros fatores, está descaracterizando a paisagem da região, além de reduzir ou terminar com determinadas espécies, favorecendo o aparecimento de espécies que podem tornar-se pragas, como por exemplo, o capim-annoni, prejudicando a continuidade dos ecossistemas naturais, impactando no meio ambiente e na vida saudável das gerações futuras.

Referências
Pillar, V. da P. et al. 2012. Campos Sulinos: conservação e uso sustentável da biodiversidade. Brasília, 403 p. (Disponibilizado em pdf).
Referências das imagens


Grupo Adriel, Ana Paula, Simone

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